Peregrinação: que palavra, que imagem, que
sonho, que viagem, que pensamento nos conduz por esta palavra? Espinoza dizia que o sentido
das coisas derivava de uma proximidade de realidade entre elas. Escolhemos
então o que nos aproxima de muitas coisas, do mundo, dos outros. Como o
fazemos? Com que linguagem?
# 7 - Peregrinação:
”Se
o dia e a noite são de tal forma que se saúdam com alegria, e a vida irradia
uma fragância que lembra flores e ervas aromáticas, é mais elástica, mais
estrelada, mais imortal, é esse o teu sucesso. A natureza inteira é o teu
aplauso, e tens uma razão momentânea para te abençoares. Os maiores ganhos e
valores estão longe de ser apreciados. Facilmente duvidamos que eles existem.
Facilmente os esquecemos. São a realidade mais elevada… A verdadeira colheita
da minha vida diária é de alguma forma tão intangível e indescritível como as
tonalidades da manhã ou do fim do dia. É um leve pó de estrelas surpreendido,
uma porção de arco-íris que agarrei.” (1)
# 8 - Peregrinação:
”Estes
são tempos modernos, disse a mim próprio. Mas nós não temos de estar presos
neles. Podemos ir onde quisermos, comungando com os anjos, retomando um tempo
da história da humanidade mais ficcional do que o futuro.
Pouco
a pouco vamos sendo libertados da tirania daquilo a que se chama o tempo. Uma
cortina de glicínias de cor púrpura esconde parcialmente a entrada para um
jardim que me é familiar. Sento-me numa mesa oval, o meu portal de Schiller, e
estico as mãos para acariciar o pulso do matemático de olhos tristes. A fenda
que nos separa fecha-se. No piscar de olhos que é o tempo da vida de uma
pessoa, atravessamos os movimentos infinitos de uma introdução musical
silenciosa.” (2)
# 9 - Peregrinação:
É preciso voltar à Beleza, como uma inscrição do
Universo. É preciso voltar a admirar o mundo natural, contemplar o belo no
efémero e inserirmo-nos numa forma de mundo onde se revelem sentimentos e não
sentimentalismo. É preciso recomeçar um caminho que permita olhar e entrar
nesse silêncio das coisas. É preciso saber acolher e saber esperar para que a
melodia das coisas se encontre com “o murmúrio de uma leve brisa” (Primeiro
Livro de Reis, 19,12).
(1) - Henry David Thoreau. (2007), Walden, ou a vida nos bosques. Lisboa: Relógio D’ Água.
(2) - Patti Smith. (2016). MTrain. Lisboa: Quetzal.
Imagens - Copyright:
Imagem 1 - do filme, Into the wilde, de Sean Peen; Imagem 2 - ©
– Giannis Gogos; Imagem 3 - ©
– Scrapbook
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
Sem comentários:
Enviar um comentário